Por: Jailson S. Dantas
Não faz muito tempo( junho 2013) vimos surgir vários movimentos de indignados que
ocuparam as ruas pelo Brasil afora para reivindicar, principalmente a redução
do aumento dos preços das passagens dos transportes públicos e contra a
corrupção que campeava de forma descontrolada. O resultado desses movimentos
foi nefasto, tal a violência que tomou conta dos protestos, com o surgimento de
uma modalidade de violência até então desconhecida em nosso meio, com os
chamados Bleck Blokrs, isto é, vândalos encapuzados que saiam às ruas
intimidando, quebrando, incendiando tudo que encontravam pela frente.
Essa cambada de delinqüentes, composta de seqüestradores da ordem
pública, elegeu a Polícia Militar como alvo a ser destruído e, pasmem:
encontrou apoio em vários setores da sociedade dita intelectual, e de parte da
imprensa áulica, chapa branca, e passaram a defender sua extinção pura e
simplesmente.
O resultado nefando dessa empreitada macabra foi o afastamento daqueles
que queriam verdadeiras mudanças na condução dos rumos do País e, resignadas,
retornaram às suas "insignificâncias".
A corrupção, que até então se cingia ao caso da Ação Penal 470,
alcunhada de mensalão, como ficou conhecido popularmente o escândalo de compra
de votos por parte do governo, para conseguir tocar os seus projetos no
Congresso Nacional, de modo particular na Câmara dos Deputados, findou por
revelar um grande projeto de poder do PT.
Tudo levava a crer que o Brasil, dessa vez, iria ser passado a limpo sob
o auspício do ministro do STF Joaquim Barbosa. Mas, que nada, mesmo durante o
desenrolar do julgamento, seguia em marcha outro escândalo ainda maior e mais
audacioso que o mensalão. Esse escândalo veio atingir a maior empresa
brasileira, a que mais nos dá orgulho, a Petrobras, fundada em 1953, pelo
ex-presidente da República Getúlio Vargas, que um ano depois pôs fim à vida
dando um tiro no peito. Assim entrou para a história, como ele havia planejado
devido o "mar de lama" que campeava no seu governo. Por ironia do
destino, o Brasil passa por um momento semelhante, principalmente no quesito
corrupção.
Esse escândalo, apelidado com muita propriedade de petrolão, consiste em
desviar dinheiro dos cofres da Petrobras para partidos políticos. Descoberto
pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, indica que o partido que comanda o
governo atualmente seria o maior beneficiário, e a investigação está em
andamento. Segundo um dos empregados, Pedro Barusco, somente para o Partido dos
Trabalhadores (PT) teria sido repassados 200 milhões de dólares. Não é pouco
dinheiro, não.
Mas o que se quer com esses argumentos não é relatar os casos
simplesmente, mesmo porque já está bem noticiado pelos meios de comunicação,
ainda livres, e sim, chamar a atenção para o silêncio que se abate sobre
parcela da sociedade, sabotada pela ação dos vândalos. Não a mesma que foi às
ruas por míseros R$ 0,20 (vinte centavos). Que sociedade é essa? Que País é
esse?
O ministro Joaquim Barbosa, devido às ameaças que sofreu, pediu
aposentadoria. Não se viu nenhum meneio de cabeça, nenhuma linha foi escrita em
sua defesa, por quaisquer entidades representativas da sociedade. Ao contrário,
entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que um dia defendeu os
direitos individuais e a Democracia, fez ao contrario, e o ameaçou até mesmo de
não conceder-lhe o registro na Ordem. Já para um dos condenados, José Dirceu,
foi diligente, concedendo-lhe o registro que antes negara a Joaquim Barbosa.
E o presidente da OAB, Marcus
Vinícius Furtado Coêlho, segundo a Revista Época, em publicação recente, teria
recebido honorários indevidos, numa ação que sequer havia participado e por
isso fora alvo de investigação por parte do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A ação teria resultado em indenização de R$ 400 milhões em desfavor do governo
do Piauí e em favor do Sindicato dos Professores daquele Estado. É essa gente
que manda do Brasil atualmente.
Hoje o ministro aposentado prega no deserto contra a corrupção e os
desmandos dos políticos e contra as benesses daqueles que condenara. Muitos dos condenados na Ação 470 já se
encontram no recesso dos seus lares, provavelmente cuidando de suas orquídeas,
enquanto outros escândalos não chegam. Aliás, segundo fontes insuspeitas, o
próximo escândalo está a caminho e envolveria o BNDES, e seria muito mais
assustador que o petrolão. Vamos aguardar, então.
A Igreja Católica, que tem grande responsabilidade nisso tudo que está
aí, pois foi quem preparou os líderes que estão hoje no poder, alguns dos
presos por corrupção, permaneceu praticando o que apregoa no recesso do
confessionário, o silêncio obsequioso, durante todo esse processo. Entretanto
agora apareceu, não para condenar com veemência a corrupção que campeia no
Brasil, mas para perfilar ao lado do governo. Pelo menos é o que aparenta dando
apoio à chamada reforma política, bastante suspeita e de interesse da OAB e PT.
A CNBB divulgou uma nota recente pela qual se posiciona contra a corrupção, mas
sem aquela ênfase do passado, da opção preferencial pelos pobres. Nunca se viu
tanta contradição!
O que chama a atenção, e acentua ainda mais essa contradição da Igreja
Católica em relação ao descalabro que atingiu o Brasil nos últimos tempos, é a
posição da Pastoral da Juventude, entidade ligada à CNBB, que se regozija em
nota recente, de ter participado da reeleição da Dilma Rousseff, que foi
“conquistada com muita luta e ação da militância na rua” e defende com unhas e
dentes o projeto bolivariano que apelida de "projeto político vencedor que
representa de forma mais clara a linha de avanços no campo social e na garantia
dos direitos, e o projeto popular na America Latina”.
Com relação às Forças Armadas, estas estão voltadas para seus afazeres
diários. Isso não quer dizer que estejam alheias aos acontecimentos. É tempo
perdido tentar atraí-las para o centro dessas discussões. Esses são chamados (sic) “vivandeiras de quartel”,
apelido dado pelo ex-presidente Castelo Branco, aos que procuravam os
militares para intervenções nas questões políticas do passado. Segundo ditado
popular, cachorro picado por cobra tem medo de lingüiça. Não é prudente aceitar
esse tipo de provocação, que funciona exatamente ao contrário.
Quanto ao juiz Sérgio Moro, do Paraná, responsável pela investigação do
petrolão, ele que se cuide, pois já tentaram desmoralizá-lo varias vezes, assim
como tentaram fazer com Joaquim Barbosa, mas felizmente não conseguiram. Há
quem afirme que o número de juízes com a coragem desse magistrado não daria,
sequer, para lotar uma Kombi. Eu discordo.
Vem sendo anunciado nas redes sociais um movimento popular para o
próximo dia 15. Vamos aguardar os acontecimentos. A expectativa é que o
silêncio, que a tantos tem incomodado, venha a ser quebrado dessa vez, se é que
ainda resta espaço para a indignação de parcela da sociedade ansiosa por
mudanças e cansada de ser enganada por falsos profetas.