segunda-feira, 2 de março de 2015

SILÊNCIO CONSTRANGEDOR



Por:  Jailson S. Dantas

Não faz muito tempo( junho 2013) vimos surgir vários movimentos de indignados que ocuparam as ruas pelo Brasil afora para reivindicar, principalmente a redução do aumento dos preços das passagens dos transportes públicos e contra a corrupção que campeava de forma descontrolada. O resultado desses movimentos foi nefasto, tal a violência que tomou conta dos protestos, com o surgimento de uma modalidade de violência até então desconhecida em nosso meio, com os chamados Bleck Blokrs, isto é, vândalos encapuzados que saiam às ruas intimidando, quebrando, incendiando tudo que encontravam pela frente.
Essa cambada de delinqüentes, composta de seqüestradores da ordem pública, elegeu a Polícia Militar como alvo a ser destruído e, pasmem: encontrou apoio em vários setores da sociedade dita intelectual, e de parte da imprensa áulica, chapa branca, e passaram a defender sua extinção pura e simplesmente.
O resultado nefando dessa empreitada macabra foi o afastamento daqueles que queriam verdadeiras mudanças na condução dos rumos do País e, resignadas, retornaram às suas "insignificâncias".
A corrupção, que até então se cingia ao caso da Ação Penal 470, alcunhada de mensalão, como ficou conhecido popularmente o escândalo de compra de votos por parte do governo, para conseguir tocar os seus projetos no Congresso Nacional, de modo particular na Câmara dos Deputados, findou por revelar um grande projeto de poder do PT.
Tudo levava a crer que o Brasil, dessa vez, iria ser passado a limpo sob o auspício do ministro do STF Joaquim Barbosa. Mas, que nada, mesmo durante o desenrolar do julgamento, seguia em marcha outro escândalo ainda maior e mais audacioso que o mensalão. Esse escândalo veio atingir a maior empresa brasileira, a que mais nos dá orgulho, a Petrobras, fundada em 1953, pelo ex-presidente da República Getúlio Vargas, que um ano depois pôs fim à vida dando um tiro no peito. Assim entrou para a história, como ele havia planejado devido o "mar de lama" que campeava no seu governo. Por ironia do destino, o Brasil passa por um momento semelhante, principalmente no quesito corrupção.
Esse escândalo, apelidado com muita propriedade de petrolão, consiste em desviar dinheiro dos cofres da Petrobras para partidos políticos. Descoberto pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, indica que o partido que comanda o governo atualmente seria o maior beneficiário, e a investigação está em andamento. Segundo um dos empregados, Pedro Barusco, somente para o Partido dos Trabalhadores (PT) teria sido repassados 200 milhões de dólares. Não é pouco dinheiro, não.
Mas o que se quer com esses argumentos não é relatar os casos simplesmente, mesmo porque já está bem noticiado pelos meios de comunicação, ainda livres, e sim, chamar a atenção para o silêncio que se abate sobre parcela da sociedade, sabotada pela ação dos vândalos. Não a mesma que foi às ruas por míseros R$ 0,20 (vinte centavos). Que sociedade é essa? Que País é esse?  
O ministro Joaquim Barbosa, devido às ameaças que sofreu, pediu aposentadoria. Não se viu nenhum meneio de cabeça, nenhuma linha foi escrita em sua defesa, por quaisquer entidades representativas da sociedade. Ao contrário, entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que um dia defendeu os direitos individuais e a Democracia, fez ao contrario, e o ameaçou até mesmo de não conceder-lhe o registro na Ordem. Já para um dos condenados, José Dirceu, foi diligente, concedendo-lhe o registro que antes negara a Joaquim Barbosa.
 E o presidente da OAB, Marcus Vinícius Furtado Coêlho, segundo a Revista Época, em publicação recente, teria recebido honorários indevidos, numa ação que sequer havia participado e por isso fora alvo de investigação por parte do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A ação teria resultado em indenização de R$ 400 milhões em desfavor do governo do Piauí e em favor do Sindicato dos Professores daquele Estado. É essa gente que manda do Brasil atualmente.
Hoje o ministro aposentado prega no deserto contra a corrupção e os desmandos dos políticos e contra as benesses daqueles que condenara.  Muitos dos condenados na Ação 470 já se encontram no recesso dos seus lares, provavelmente cuidando de suas orquídeas, enquanto outros escândalos não chegam. Aliás, segundo fontes insuspeitas, o próximo escândalo está a caminho e envolveria o BNDES, e seria muito mais assustador que o petrolão. Vamos aguardar, então. 
A Igreja Católica, que tem grande responsabilidade nisso tudo que está aí, pois foi quem preparou os líderes que estão hoje no poder, alguns dos presos por corrupção, permaneceu praticando o que apregoa no recesso do confessionário, o silêncio obsequioso, durante todo esse processo. Entretanto agora apareceu, não para condenar com veemência a corrupção que campeia no Brasil, mas para perfilar ao lado do governo. Pelo menos é o que aparenta dando apoio à chamada reforma política, bastante suspeita e de interesse da OAB e PT. A CNBB divulgou uma nota recente pela qual se posiciona contra a corrupção, mas sem aquela ênfase do passado, da opção preferencial pelos pobres. Nunca se viu tanta contradição!
O que chama a atenção, e acentua ainda mais essa contradição da Igreja Católica em relação ao descalabro que atingiu o Brasil nos últimos tempos, é a posição da Pastoral da Juventude, entidade ligada à CNBB, que se regozija em nota recente, de ter participado da reeleição da Dilma Rousseff, que foi “conquistada com muita luta e ação da militância na rua” e defende com unhas e dentes o projeto bolivariano que apelida de "projeto político vencedor que representa de forma mais clara a linha de avanços no campo social e na garantia dos direitos, e o projeto popular na America Latina”.
Com relação às Forças Armadas, estas estão voltadas para seus afazeres diários. Isso não quer dizer que estejam alheias aos acontecimentos. É tempo perdido tentar atraí-las para o centro dessas discussões. Esses são  chamados (sic) “vivandeiras de quartel”, apelido dado pelo  ex-presidente  Castelo Branco, aos que procuravam os militares para intervenções nas questões políticas do passado. Segundo ditado popular, cachorro picado por cobra tem medo de lingüiça. Não é prudente aceitar esse tipo de provocação, que funciona exatamente ao contrário.      
Quanto ao juiz Sérgio Moro, do Paraná, responsável pela investigação do petrolão, ele que se cuide, pois já tentaram desmoralizá-lo varias vezes, assim como tentaram fazer com Joaquim Barbosa, mas felizmente não conseguiram. Há quem afirme que o número de juízes com a coragem desse magistrado não daria, sequer, para lotar uma Kombi. Eu discordo.

Vem sendo anunciado nas redes sociais um movimento popular para o próximo dia 15. Vamos aguardar os acontecimentos. A expectativa é que o silêncio, que a tantos tem incomodado, venha a ser quebrado dessa vez, se é que ainda resta espaço para a indignação de parcela da sociedade ansiosa por mudanças e cansada de ser enganada por falsos profetas.