terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Cuba, lugar para onde convergem todos os democratas de araque

Cuba, lugar para onde convergem todos os democratas de araque

Tenho lido, recentemente, na imprensa que políticos e figuras proeminentes brasileiras têm viajado à Cuba para passarem merecidas férias e aprazível descanso, respirando ar caribenho, longe dos problemas vivenciados no cotidiano deixado-os para trás, onde a liberdade de imprensa, o direito de ir e vir, o direito de expressar com liberdade são valores garantidos pela nossa Constituição cidadã. Fico a imaginar aqui com os meus botões como políticos, educadores, advogados bem-sucedidos, jornalistas, todos defensores aguerridos da Democracia, sempre que oportunidades se lhes apresentam, tomam o primeiro avião e se bandeiam para Havana. Ah, como eu gostaria de ser um mosquitinho só para ver esses “democratas” desfilando pelo El Malecón – local onde muitos adversários do Regime foram sumariamente fuzilados por crime de pensamento-, dando baforadas de charutos e com a pança cheia de mojitos, divagando sobre um mundo, cuja utopia ainda lhes povoa a cabeça, ainda que seus carrões importados tenham ficado, cá no Brasil, estacionados nas garagens de suas mansões, ou nas suas casas luxuosas de praia.
Agora mesmo tomo conhecimento que o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), lá se encontra com familiares e séquito, gozando da hospitalidade do comandante Fidel Castro. Genro foi o mesmo que, quando Ministro da Justiça, botou todo o aparato policial e de inteligência do País no encalço dos cubanos Guillermo Rigondeoux e Erislandy Lara, atletas cubanos que ousaram escapar do Regime Comunista cubano durante os jogos Pan-americanos em julho de 2007, no Rio de Janeiro. O grande democrata, depois de encontrá-los, imediatamente os entregou às autoridades cubanas, não sem antes contar com a camaradagem e ajuda do presidente da Venezuela Hugo Chaves que, incontinente, mandou um jatinho ao Brasil para transportá-los ao país de origem. A alegação foi de que eles não queriam pedir asilo político, pois teria sido lhes ofertado essa possibilidade, e eles a teriam recusado. Me engana que eu gosto! A realidade é que em novembro do mesmo ano (2007) ambos fugiram para a Alemanha, país onde estariam vivendo atualmente.
Durante os jogos Pan-americanos os atletas cubanos eram vistos em bandos pelas ruas de Copacabana, trajando os seus garbosos agasalhos esportivos, sempre carregando enormes sacolas de Shopping-Centers cheias de compras. Soube-se, depois, que os atletas, lá na Vila Olímpica, estavam vendendo os uniformes oficiais ao preço de R$ 150 reais, para fazerem compras. Muita gente comprou. Eu até que tentei adquirir um, mas quando procurei a farra já havia acabado. Era tanta liberdade e eram tantas as oportunidades que não foi à toa que os atletas tentaram desertar. Eles só não contavam com o empenho do, à época, ministro Tarso Genro.
O que se sabe é que a situação econômica de Cuba continua em frangalhos. Ali não há empregos suficientes- muito menos liberdade-, para atender à mão-de-obra demandante. Os benefícios sociais ofertados pelo Estado já não atendem mais às necessidades crescentes da população que é de 11.382.820 habitantes (dados de 2006). Seu principal produto de exportação é o níquel. Os produtos que no passado foram a mola mestra da economia cubana, tal como o açúcar e o tabaco hoje se encontram em declínio.
Acompanhei recentemente pela TV Globo, no Jornal Nacional, reportagens sobre Cuba. Fiquei estarrecido ao saber que o salário mínimo lá é de R$ 17,00. Fiquei achando que poderia ter ocorrido engano nas informações, pois não entendo ser possível alguém sobreviver com tão irrisória quantia. Fui conferir e, eis o pior: é verdade mesmo. Procurei no mercado algum produto cubano para ter uma idéia. Encontrei charutos e bebidas, nada mais. Ironicamente esses produtos aqui no Brasil estão fora de moda. Um legítimo charuto cubano custa atualmente aqui de R$ 40,00 a R$ 55,00, o que daria para pagar o salário de três trabalhadores cubanos.
 O objetivo desta digressão é tão-somente chamar a atenção para um fenômeno turístico saudosista em evidência. A mim me dá igual, pois todo mundo tem o direito de fazer turismo aonde bem entender, gastar a sua bufunfa aonde lhes der na telha. Só acho uma tremenda cara-de-pau o sujeito posar de democrata aqui, e ir passar férias onde não existe nem sobra desse conceito de princípios que norteiam as liberdades das sociedades livres, ou seja, a Democracia.  O resto é papo furado de quem não tem o que fazer.   

domingo, 1 de janeiro de 2012

Chame o ladrão

A reportagem de Veja, de 21 de dezembro de 2011, a qual se refere ao desvio de conduta de policiais militares do Rio de Janeiro, "kit PM", é de fazer corar de raiva qualquer punguista mequetrefe e ladrões de galinhas. Esses hão de dizer, com toda razão: assim não dá, isso é concorrência desleal com a categoria. Bandido é bandido e polícia é policia já dizia Lúcio Flávio, um bandido famoso que viveu no Rio de Janeiro nos idos de 70. É, mas foi no  passado, hoje eles estão todos juntos e misturados, ninguém sabe mais quem é quem. O Sistema é bruto. Há algumas recomendações a serem seguidas quando abordados por policias na rua, seja de dia ou à noite e, uma dessas é pronunciar as seguintes palavras: sim senhor, não senhor e quero ir embora. Caso o cidadão tenha tempo e sorte de pronunciá-las, pode ser que escape de tomar uns pescoções. Mas, por outro lado, corre o risco de ficar sem a carteira.

O tal kit, segundo a Revista, é constituído de peças básicas dos veículos tais como chaves de roda, triângulo e stepes. Esse material é surrupiado dos veículos roubados e recuperados por policiais desonestos, os quais fazem a limpa antes de devolvê-los aos respectivos donos, uma espécie de butim. Ou seja, o cidadão é duplamente roubado nesse caso.

 Acontece que policial corrupto tem em todo lugar do mundo. No Brasil esse fenômeno não é uma regra e não se deve generalizar, pois a grande maioria das corporações policiais é composta por homens honestos e cumpridores das suas obrigações. Então, é bom que se diga que os policiais não vêm de outro planeta, não. Eles saem do seio da própria sociedade. Essa que, ao mesmo tempo em que lhe cobra retidão de caráter, os rejeita sem cerimônia.

Tenho parentes no nordeste cuja atividade é o transporte de cargas e, uma das coisas que mais os intrigam, pois várias vezes me fizeram comentários a respeito, é que eles não entendem como policiais rodoviários são capazes de aceitar propinas em qualquer numerário acima de um real. Ora, a equação é simples: a galinha enche o papo de grão em grão. O importante não são os dois ou três reais que aceitam de um caminhoneiro, coisa que nem flanelinha aceita de bom grado, e sim o resultado final durante um mês inteiro de arrecadação. Levando-se em conta o movimento de caminhão nas estradas, que não é pouco, pode-se ter uma ideia de quão vantajosa é essa rotina de pinga- pinga.

Assim, no caso dos policiais militares do Rio de Janeiro, é possível compreender porque um "kit PM" pode ser adquirido, no mercado negro, a partir de 60 reais, enquanto que no mercado legal esse mesmo kit alcança a quantia de 500 reais.  Esse numerário, 60 reais, pode parecer pouco, mas é muito, já que se trata de produto de roubo e roubo é crime. Se praticado por servidor público tem agravante.
O policial deve acreditar na lei e na ordem de um modo curiosamente inocente. Acredita nisso mais do que o público a quem ele serve. Afinal de contas, a lei e a ordem é a mágica de onde extrai o poder individual que ele acalenta, como quase todos os homens. Contudo, há sempre o ressentimento reprimido contra o público a quem serve. Ele é ao mesmo tempo seu guarda e sua presa. Como guarda é ingrato, abusado e exigente. Como presa é escorregadio e perigoso, cheio de manhas. Logo que alguém cai nas garras de um policial, o mecanismo da sociedade que ele defende reúne todos os seus recursos para arrancar a presa de suas mãos. A prisão logo é relaxada. Juízes dão sursis tolerantes aos piores bandidos. Governadores e até o próprio presidente da República concede os perdões plenos, admitindo que advogados respeitáveis que não obtiveram a sua absolvição. Depois de algum tempo o policial aprende. Por que não receber esses honorários que os bandidos estão pagando? Mais do que ninguém ele precisa disso. Por que seus filhos não devem frequentar a faculdade? Por que sua mulher não deve comprar nas lojas mais caras? Por que ele não pode gozar umas férias merecidas? Afinal de contas ele arrisca a vida para proteger a sociedade e isso não é brincadeira.

O diálogo do parágrafo acima está contido no livro o Chefão, de Mário Puzo, capítulo 17, que deu origem ao filme O Poderoso Chefão. Mas, para nós brasileiros o assunto encontra-se atualizado. O que vemos por aqui é a ausência total da ética, dos bons costumes, do respeito pelo próximo, a prática dos vícios e maus costumes; o jeitinho brasileiro, a arte de passar a perna nos outros. Enfim, o que prospera mesmo é a corrupção, agora rebatizada de malfeitorias pelos sofistas modernos.

A ética, por si só, não é uma simples palavra solta ao vento, é um conceito que vem desde que os homens resolveram viver em sociedade. O maior filósofo que disseminou a ética no mundo foi Jesus Cristo quando deixou o ensinamento, o qual todos deveriam seguir, de que "deveria ser dado a César o que era de César e a Deus o que era de Deus", ou seja, que cada um deveria cuidar do que lhe pertencia e deixar de querer avançar no alheio. Mas essa palavra, ética, que deveria nortear a convivência pacifica entre os homens foi prostituída, foi jogada na vala comum de uns tempos para cá. Portanto, do jeito que a coisa caminha, se em algum momento da vida um cidadão, por um infortúnio qualquer precisar de polícia, seja nas ruas ou nos gabinetes refrigerados, ao invés de chamar o ramal 190 é melhor chamar 171.Chame o ladrão, pode sair mais barato.