quarta-feira, 11 de abril de 2012

OU O BRASIL ACABA COM A CORRUPÇÃO, OU A CORRUPÇÃO ACABA COM O BRASIL

Para se ter uma ideia do que vem a ser a corrupção no Brasil de hoje e de antes, é preciso voltar um pouco no tempo e refletir sobre os Sermões do Padre Antônio Vieira, principalmente o que se refere aos Peixes, ou de Santo Antônio. Ali está a gênese de tudo. Ironicamente essa pregação fora feita em São Luiz do Maranhão em 1654, por esse gênio da oratória Sacra.
Nós, brasileiros, estamos fartos de sermos enganados por esses falsos profetas que, travestidos de homens honrados e defensores dos bons costumes, quando flagrados com a boca na botija sempre recorrem aos seus direitos contidos nas leis vigentes, as mesmas que deixam de cumprir, mas que as usam em benefício próprio. Esse é o caso do senador Demóstenes Torres. O ilustrado político era uma espécie de guardião da lanterna de Diógenes de Sínope, aquele filósofo Grego que perambulava pelas ruas de Atenas sempre com uma lanterna na mão em busca de um homem. Sim, ele andava em busca de um homem de verdade!
Torres, que se tornou um “cínico” convicto - não nos moldes do filósofo-, mas um cínico modernoso, que pretendeu enganar a todos durante todo o tempo. Deu-se mal e acabou enredado no cipoal de denúncias de corrupção. Muita gente foi enganada pela sua eloqüência, competência e sabedoria jurídica, o qual demonstrava possuir. O fato de ter sido membro do Ministério Público Goiano lhe conferia maior credibilidade. O senador Pedro Simon, numa entrevista recente à Revista Veja, chegou a dizer que colocava a mão no fogo por ele. Queimou-se. Queimamo-nos todos.
Voltemos ao Sermão do padre Vieira. “Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser, a causa dessa corrupção? (...)”. Ora, a resposta é simples: talvez seja porque os que deveriam agir, os que são pagos para agir não o fizeram, não o fazem e se deixam levar pela vaidade. Como diz o Sermão, o sal tem o poder de impedir o apodrecimento. Pois é isso, no caso, o senador possuía o poder do sal e não usou esse poder para impedir a podridão da corrupção que permeia a sociedade; preferiu, ao contrário, acumpliciar-se com a casta bandida e viver à custa das migalhas que lhes eram ofertadas pelo Crime Organizado. Tinha o dever de vigiar e punir e não o fez. Optou por vestir a túnica de Calabar e trair a todos os que acreditaram na sua ladainha de homem honrado, político combativo e vigilante. Que sina, que decepção, Demóstenes!
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) está a caminho, mas como outras que ocorreram no passado recente essa não pode acabar em “pizza”. Não devemos esquecer que, em muitos casos uma CPI serve a propósitos outros que não aos fins para os quais foi instalada, ou seja, apurar e punir os responsáveis pelas irregularidades cometidas e, ainda de quebra, servir de exemplo para outros aventureiros. Os corruptos sempre contam com o esquecimento da sociedade para, sorrateiramente, voltarem ao “ofício”. Os mensaleiros que o digam. A Justiça, sal da terra, tem o dever de julgá-los logo, antes que a prescrição chegue para beneficiá-los. Eles estão contando com isso.
Então, vamos torcer para que a fumaça da boa justiça seja praticada e repetir as palavras do próprio senador, na entrevista que deu à Revista Veja, em junho de 2011: “Só sobrou o Supremo”. Parece que sabia do que estava falando. Do jeito que a coisa vai, ou o Brasil acaba com a corrupção, ou a corrupção acaba com o Brasil, parafraseando o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire que se referiu, no mesmo sentido, às saúvas, formigas cortadeiras, praga que infestava os campos brasileiros, no meado do século XIX.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

PARA MUITOS A POBREZA É CONVENIENTE

Não faz muito tempo assisti um filme cujo tema se referia aos momentos seguintes ao fim da Segunda Guerra, na Alemanha. A atriz principal no papel de prostituta, num determinado diálogo para justificar a sua profissão, dizia o seguinte: A guerra é conveniente, pois em nome dela pode-se cometer todos os desatinos, e todos, podem ser justificados. Assim é o que sinto em relação à pobreza no Brasil recente. Em nome na miséria pode se cometer os maiores desatinos, as maiores barbaridades, sem que os perpetradores se sintam, de alguma forma, responsabilizados.
Isso vai desde aqueles que estão nessa condição, pobreza, até os que atuam em nome dela prometendo erradicá-la. No segundo caso estão alguns políticos cuja campanha eleitoral, de quatro em quatro anos, sempre se refere ao mesmo tema. Ou seja, lutar para acabar com a pobreza e a miséria. Pelo que se tem notado, as campanhas têm sido exitosa quando se trata de acabar com a pobreza dos próprios. Conheço algumas figuras políticas que, no inicio da vida pública, andavam de bicicleta ou mesmo a pé, com uma mochila nas costas cheia de panfletos e hoje estão ricos, muito ricos à custa do erário. E os pobres? Ah, esses continuam pobres e elegendo os mesmo picaretas de sempre.
Acontece que a pobreza não é uma condição estática, ela é decorrente de situações momentâneas e não pode ser justificativa para o cometimento de crimes, como muitos querem passar essa idéia distorcida. Já ouvi tolices tais como: se um jovem pobre rouba um tênis de marca é porque não tem condições de comprá-lo. E assim por diante. As ruas estão entupidas desse tipo de delinqüente; delinqüente coitadinho! Pode ser coitadinho, mas a pistola que usou para assaltar, com certeza teria, em tese, o valor de dez ou mais pares do tênis que roubou, com o custo da vida da vítima, em muitos casos.
Outros delinqüentes mais qualificados e ricos, não assaltam nas ruas, não roubam tênis, não roubam saquinhos de biscoitos nos supermercados; não roubam galinhas. Esses roubam em outras esferas. Roubam nas licitações públicas superfaturadas. E ainda podem obter o beneplácito da sociedade de que roubam, sim, mas faz. Assim sendo, tanto a guerra como a pobreza, duas desgraças da humanidade, podem servir a propósitos semelhantes. Mas, na realidade nua e crua, tanto é ladrão aquele que roubou um tênis quanto o que fraudou uma licitação. E ponto final.