sexta-feira, 10 de agosto de 2012

ASSASSINATO NO CINEMA

Tudo aconteceu de uma hora para outra, sem que ninguém pudesse esperar. As luzes se apagaram e o filme começou. Inicialmente todos estávamos em silêncio absoluto e de repente, não mais que de repente, um vulto apareceu numa das portas laterais. Inicialmente não dava para saber se era homem ou mulher, mas quando começaram os disparos, com o clarão que saia  do cano da arma, o qual iluminava a cara do atirador, foi que se pode ver que se tratava de um homem. Um homem jovem aparentando ter entre 20 a 25 anos de idade. Além da arma que empunhava trazia outras duas a tiracolo.  Deu para ver que trazia presas ao corpo várias granadas, as quais, felizmente, não foram usadas.
Iniciou-se uma gritaria e uma correria incontrolável, com pessoas passando umas por cimas das outras, todas desesperadas. O atirador não parava de disparar sua arma, ao mesmo tempo em que gritava que ele era o justiceiro implacável, fruto do consumo exagerado de uma sociedade cosmopolita que não tinha compromissos com o seu semelhante. Estabeleceu-se o horror. Quando se passavam mais de 30 segundos as luzes foram acesas e, então, o que se viu foi uma verdadeira carnificina, havia corpos ensanguentados por todos os lados. O odor insuportável de sangue, pólvora, urina e excremento se expandiu pelo ambiente. Aí foi quando as portam se abriram num estrondo, acompanhado de uma fumaça espessa. No meio daquela fumaceira, eis que irrompeu uma tropa de homens armados usando máscaras contra gazes. Os focos das lanternas que portavam faziam uma espécie de dança macabra no meio do fumo presente, em busca frenética pelo louco atirador que havia parado de atirar, mas a pausa não significava que o tormento havia terminado. O assassino parou apenas para recarregar a arma. Foi quando, nesse momento, ecoou um disparo seguido de um barulho de um corpo que cai. Imediatamente ouviu-se um grito que ecoou no recinto tal qual numa caverna: acabou-se!
Quando acordei estava suado dos pés à cabeça e sentia um calor insuportável, apesar de naquela madrugada os termômetros acusarem uma temperatura de 10 cº. em Brasília. Dei graças a Deus por ter sido apenas um sonho, coisa que não aconteceu para todos aqueles que passaram pelo horror vivenciado dentro de um cinema, na cidade de Aurora, em Denver, no Estado do Colorado, nos Estados Unidos da América. Lembrei-me do Filme: “Coisas Para Fazer em Denver Quando Você Está Morto”, de Andy Garcia. Peguei o filme e fui assisti-lo, mas sempre com o pensamento voltado para as vítimas do cinema e aquele terrível pesadelo. Dias depois fui assistir o Batmam e confesso que não achei graça nenhuma, tive vontade de sair no meio do filme, mas resisti assim mesmo, em respeito às vítimas de Denver e, é claro, ao meu bolso.
Brasília, 08 de agosto de 2012.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

É TEMPO DE ELEIÇÕES MUNICIPAIS E TEMPO DE  CABALAR VOTOS
Ao se aproximarem as eleições municipais não seria demasiado relembrar um certo  administrador público que viveu no Sertão das alagoas, lá pelos idos  de 1928 a 1930,cujo nome que lhe deram na pia batismal foi o de Graciliano, Graciliano Ramos. Esse cidadão assumiu a prefeitura de Palmeira dos Índios, a qual se achava em petição de miséria naquela quadra, como ele mesmo relata em seus relatórios encaminhados ao governador do Estado, dos quais farei, pois, algumas inserções neste breve comentário.
Logo no primeiro relatório, datado de janeiro de 1929, ele expõe de maneira clara: “Trago à V. Excia. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928”. E prossegue Graciliano: “não foram muitos, que os nossos recursos são exíguos. Assim minguados, entretanto, quase insensíveis ao observador afastado, que desconheça as condições em que o Município se achava, muito me custaram”.
“Havia em Palmeira inúmeros prefeitos: os cobradores de impostos, o comandante do destacamento, os soldados, outros que desejassem administrar. Cada pedaço do Município tinha sua administração particular, com prefeitos, coronéis e prefeitos inspetores de quarteirões. Os fiscais, esses, resolviam questões de polícia e advogavam”. Ou seja, era uma verdadeira balbúrdia. Mas O velho Graciliano, não se deixou intimidar e mandou ver. Para que essa anomalia, essa bagunça desaparecesse ele disse que lutou com tenacidade e encontrou obstáculos dentro da prefeitura e fora dela. “Dentro uma resistência mole, suave, de algodão em rama; afora, uma campanha sôrna, oblíqua, carregada de billis. Pensavam uns que tudo ia bem nas mãos de Nosso Senhor, que administra melhor do que todos nós; outros me davam três meses para levar um tiro”. “Dos funcionários que encontrei em janeiro do ano passado restam poucos: saíram os que faziam política e os que não faziam coisa nenhuma. Os atuais não se metem onde não são chamados (...)” Não sei se administração do Município é boa ou ruim. Talvez pudesse ser pior”.
Graciliano Ramos prosseguiu na sua tarefa de administrador probo, construindo estradas, retirando animais que ficavam soltos nas ruelas dos logradouros públicos, aterrando lagoas infestadas de mosquitos, construindo escolas. Isso sempre economizando os minguados recursos.
Por fim, ele conclui o relatório nos seguintes termos: “Procurei sempre os caminhos mais curtos. Nas estradas que se abriram só há curvas onde as retas foram inteiramente impossíveis. Evitei emaranhar-me em teias de aranha. Certos indivíduos, não sei porquê, imaginam que devem ser considerados; outros se julgam autoridade bastante para dizer aos contribuintes que não paguem impostos. Não me entendi com esses”.
“Há quem ache tudo ruim, e ria constrangidamente, e escreva cartas anônimas, e adoeça, e se morda por não ver a infalível maroteirazinha, a abençoada canalhice, preciosa para quem a pratica, mais preciosa ainda para os que dela se servem como assunto invariável; há quem não compreenda que um ato administrativo seja isento de lucro pessoal; há até quem pretenda embaraçar-me em coisa tão simples como quebrar as pedras dos caminhos”.
“Não favoreci ninguém. Devo ter cometido numerosos disparates. Todos os meus erros, porém, foram erros da inteligência, que é fraca. Perdi vários amigos, ou indivíduos que possam ter semelhante nome. Não me fizeram falta (...). Há descontentamento. Se a minha estada na Prefeitura por estes dois anos dependessem de um plebiscito, talvez eu não obtivesse dez votos”.
Pois é, num momento em que grassa pelo Brasil afora uma roubalheira sem tamanho, quando prefeitos eleitos para administrar passam a agir em causa própria empregando familiares, desviando dinheiro público, superfaturando obras. Diante de quadro tão assustador não seria demais darmos uma passadinha de olhos pela história e descobrir que existiam pessoas preocupadas com a coisa pública. Entretanto, como bem o próprio Graciliano, já havia naquela ocasião a canalhice. Só que, no Brasil de hoje, a safadeza, o descaramento, a falta de vergonha e a picaretagem são considerados por muitos uma qualidade. Muitos haverão de dizer: ora, ora, se roubam, mas fazem, deixa o pau comer solto! Enquanto isso acontece, faltam hospitais, escolas, estradas, saneamento básico, iluminação pública. Sem falar nas doenças que já estavam erradicadas há muito tempo e que agora voltam com toda a força, como são os casos de coqueluche, caxumba, catapora, malária e outras tantas. Como nos fazem falta alguns Gracilianos!
Portanto, é tempo de reflexão e prestar bem atenção nas figuras que irão aparecer pedindo seu voto e prometendo mundos e fundos, sempre de braços dados com um picareta maior, com sorriso amarelo no rosto a cabalar o seu voto.  Se for um desses de ficha suja, então nem se fala, pau nele.
Brasília, 03 de Agosto de 2012.