sexta-feira, 3 de agosto de 2012

É TEMPO DE ELEIÇÕES MUNICIPAIS E TEMPO DE  CABALAR VOTOS
Ao se aproximarem as eleições municipais não seria demasiado relembrar um certo  administrador público que viveu no Sertão das alagoas, lá pelos idos  de 1928 a 1930,cujo nome que lhe deram na pia batismal foi o de Graciliano, Graciliano Ramos. Esse cidadão assumiu a prefeitura de Palmeira dos Índios, a qual se achava em petição de miséria naquela quadra, como ele mesmo relata em seus relatórios encaminhados ao governador do Estado, dos quais farei, pois, algumas inserções neste breve comentário.
Logo no primeiro relatório, datado de janeiro de 1929, ele expõe de maneira clara: “Trago à V. Excia. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928”. E prossegue Graciliano: “não foram muitos, que os nossos recursos são exíguos. Assim minguados, entretanto, quase insensíveis ao observador afastado, que desconheça as condições em que o Município se achava, muito me custaram”.
“Havia em Palmeira inúmeros prefeitos: os cobradores de impostos, o comandante do destacamento, os soldados, outros que desejassem administrar. Cada pedaço do Município tinha sua administração particular, com prefeitos, coronéis e prefeitos inspetores de quarteirões. Os fiscais, esses, resolviam questões de polícia e advogavam”. Ou seja, era uma verdadeira balbúrdia. Mas O velho Graciliano, não se deixou intimidar e mandou ver. Para que essa anomalia, essa bagunça desaparecesse ele disse que lutou com tenacidade e encontrou obstáculos dentro da prefeitura e fora dela. “Dentro uma resistência mole, suave, de algodão em rama; afora, uma campanha sôrna, oblíqua, carregada de billis. Pensavam uns que tudo ia bem nas mãos de Nosso Senhor, que administra melhor do que todos nós; outros me davam três meses para levar um tiro”. “Dos funcionários que encontrei em janeiro do ano passado restam poucos: saíram os que faziam política e os que não faziam coisa nenhuma. Os atuais não se metem onde não são chamados (...)” Não sei se administração do Município é boa ou ruim. Talvez pudesse ser pior”.
Graciliano Ramos prosseguiu na sua tarefa de administrador probo, construindo estradas, retirando animais que ficavam soltos nas ruelas dos logradouros públicos, aterrando lagoas infestadas de mosquitos, construindo escolas. Isso sempre economizando os minguados recursos.
Por fim, ele conclui o relatório nos seguintes termos: “Procurei sempre os caminhos mais curtos. Nas estradas que se abriram só há curvas onde as retas foram inteiramente impossíveis. Evitei emaranhar-me em teias de aranha. Certos indivíduos, não sei porquê, imaginam que devem ser considerados; outros se julgam autoridade bastante para dizer aos contribuintes que não paguem impostos. Não me entendi com esses”.
“Há quem ache tudo ruim, e ria constrangidamente, e escreva cartas anônimas, e adoeça, e se morda por não ver a infalível maroteirazinha, a abençoada canalhice, preciosa para quem a pratica, mais preciosa ainda para os que dela se servem como assunto invariável; há quem não compreenda que um ato administrativo seja isento de lucro pessoal; há até quem pretenda embaraçar-me em coisa tão simples como quebrar as pedras dos caminhos”.
“Não favoreci ninguém. Devo ter cometido numerosos disparates. Todos os meus erros, porém, foram erros da inteligência, que é fraca. Perdi vários amigos, ou indivíduos que possam ter semelhante nome. Não me fizeram falta (...). Há descontentamento. Se a minha estada na Prefeitura por estes dois anos dependessem de um plebiscito, talvez eu não obtivesse dez votos”.
Pois é, num momento em que grassa pelo Brasil afora uma roubalheira sem tamanho, quando prefeitos eleitos para administrar passam a agir em causa própria empregando familiares, desviando dinheiro público, superfaturando obras. Diante de quadro tão assustador não seria demais darmos uma passadinha de olhos pela história e descobrir que existiam pessoas preocupadas com a coisa pública. Entretanto, como bem o próprio Graciliano, já havia naquela ocasião a canalhice. Só que, no Brasil de hoje, a safadeza, o descaramento, a falta de vergonha e a picaretagem são considerados por muitos uma qualidade. Muitos haverão de dizer: ora, ora, se roubam, mas fazem, deixa o pau comer solto! Enquanto isso acontece, faltam hospitais, escolas, estradas, saneamento básico, iluminação pública. Sem falar nas doenças que já estavam erradicadas há muito tempo e que agora voltam com toda a força, como são os casos de coqueluche, caxumba, catapora, malária e outras tantas. Como nos fazem falta alguns Gracilianos!
Portanto, é tempo de reflexão e prestar bem atenção nas figuras que irão aparecer pedindo seu voto e prometendo mundos e fundos, sempre de braços dados com um picareta maior, com sorriso amarelo no rosto a cabalar o seu voto.  Se for um desses de ficha suja, então nem se fala, pau nele.
Brasília, 03 de Agosto de 2012.

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