quinta-feira, 12 de julho de 2012

DEMÓSTENES TORRES NÃO TRABALHA MAIS AQUI

Por: Jailson S. Dantas
Parafraseando o filme de Marti Scorcese, Alice não mora mais aqui, é que inicio esta digressão sobre o episódio que levou à cassação do senador Demóstenes Torres, agora ex-senador, neste 11 de julho, quarta-feira, para alívio geral daqueles que pregam e professam a ética nos negócios públicos. Não vejo o processo que o levou à cassação, bem como sua agonia para livrar-se das acusações de quebra do decoro, com regozijo, e sim, com profunda tristeza, pois nenhum homem é uma ilha.
 Senti seu desespero em tentar provar sua inocência de lobo em pele de cordeiro, porém todo seu esforço foi em vão e acabou defenestrado do Senado, Casa por onde passaram grandes figuras políticas da nação, tais como Ruy Barbosa, Afonso Arinos de Mello Franco, Petrônio Portela, Jarbas Passarinho, e outros mais. O que sinto, na verdade, é vergonha por ele, por mais estranho que isso possa parecer.  Eu, como tantos outros brasileiros que tínhamos respeito e admiração pelo trabalho que desenvolvia sempre à frente dos seus pares, tal a sua expertise nos assuntos que discutia, fomos enganados.
Demóstenes defendia causas e ideias que, nenhum outro senador talvez tivesse a coragem de defendê-las. Parecia-nos, tratar-se de um homem destemido e, diga-se, digno de todo o respeito. Mas, ao contrário, não passava de um lambe-botas de um contraventor, dublê de empresário, alcunhado Carlinhos cachoeira. Este, ao contrario do ex-senador e da Alice do filme, ainda mora por aqui e seu endereço atual é o Presídio da Papuda, em Brasília.
O renomado político goiano, durante o período em que se desenrolava a CPMI, andava acabrunhando, esgueirando-se pelos cantos e pouco aparecia no Senado, mas, ao se aproximar a data fatídica, ao contrário, compareceu diariamente ali e desandou a fazer discursos acalorados para um plenário vazio, se defendendo do indefensável. Na tentativa vã de salvar a própria pele comparou-se a Jesus Cristo, acusou a imprensa, pediu clemência; mas nada disso adiantou. Não conseguiu o que queria. Porém, seu esforço não foi totalmente em vão, granjeou simpatias e conseguiu 19 votos a seu favor. O resultado foi 56 votos pela cassação, cinco abstenções e um senador que não compareceu. É evidente que aqueles que votaram contra a cassação o fizeram sob o manto espúrio do voto secreto, cujo tempo de vida tende a encurtar a cada vez que um episódio desses acontece. Desde o dia 7 de setembro do ano passado (2011), marco das passeatas contra a corrupção no Brasil, que o fim do voto secreto está em pauta. Vamos esperar para ver.
No inicio desse processo postei um comentário a respeito da Operação Monte Carlo, neste mesmo espaço, onde eu dizia que, o agora ex-senador Demóstenes posava de homem sério, guardião da lanterna de Diógenes de Sinope, filósofo grego que perambulava pelas ruas de Atenas com uma lanterna na mão em busca de um homem verdadeiro, honesto.  Com essa atitude enganou a muitos de boa fé, por outro lado, também, ganhou muitos desafetos no Senado, fato que contribuiu, provavelmente, para o resultado que se viu ao final. De minha parte, já vai tarde, Demóstenes! Agora, faltam os outros...
Brasília, 11 de julho de 2012.

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